sexta-feira, 23 de março de 2012

Destino: Guiana Francesa I

Aqui farei um pequeno relato da minha chegada na Guiana Francesa, contando os detalhes que nos interessam, os detalhes engraçados.

Antes de tudo, o meu passaporte não estava pronto! Quando eu tive a confirmação que viria, fui em desespero à polícia federal, sabendo que o meu passaporte demorasse aí talvez uns meses, seria uma catástrofe! Mas com um pouco de inteligência (e sorte, que sorte! No Rio de Janeiro temos pelo menos uns quatro postos disponíveis pra quem vive no centro do Rio ou região metropolitana próxima) consegui uma tal façanha: marquei o encontro para pegar o passaporte em duas semanas, e o mesmo saiu em seis dias.


Depois, quando recebi os papéis (aquele monte de coisa escrita em francês) fui ao consulado geral da França no Rio de Janeiro para entrar com o pedido do visto. Felizmente como o contato exercido entre a Académie Guyane e o consulado é rápido, o visto saiu em, pasmem, mais seis dias. Em seguida, saindo do Rio, resolvi fazer um pequeno tour pela Europa antes de ir diretamente a terra de Félix Éboué. Motivo? A passagem saindo do Rio para a Guiana Francesa se construiria das seguintes formas:


  • Rio x Belém x Caiena: O total dessa vibe, numa viagem miserável com estadia obrigatória em Belém de doze horas, e mudança de companhia aérea, sairia pela bagatela de R$ 1350. Uma viagem chata, sem interesse e cara. Além disso, sairia de uma empresa brasileira pra pegar a Air Caraïbes, que é uma jóia de coroa de cara!

  • Rio x Macapá x Oiapoque x São-Jorge x Caiena: Definitivamente a volta ao mundo! Cinco horas de avião para Macapá, no mínimo onze horas de ônibus até o Oiapoque (e como sabemos, às vezes pode ultrapassar o tempo previsto, em função das condições da estranha Macapá x Oiapoque com trechos de terra batida) em seguida Oiapoque x São Jorge pela catraia (ou pirogue, pelos francófonos) e por fim um taxi coletivo (taxico como dizem aqui). Os custos - Rio x Macapá em torno de 700 reais A IDA (qualquer trecho indo ou vindo de Macapá costuma ser caro), mais 70 reais o ônibus de Macapá ao Oiapoque (espere gastar uns 30 reais de comida na estrada), mais 10 reais de catraia (pague 10 reais ou cinco euros) enfim, em torno de 40 euros de taxico. É a possibilidade mais barata, de um lado é prático (porque você vem de taxi pra dentro de Caiena, já pode ir para o lugar que ficará alojado).


  • Rio x Europa x Caiena: Eu fiz uma coisa muito engraçada - como eu queria muito passar na Europa antes de ir a Caiena, fiz um pequeno trecho turístico (duas cidades européias em trecho) que me saiu por 1600 reais (que ao contrário das outras maracutaias, essa eu pude parcelar, a Air CaraÏbes que faz Belém x Caiena não parcela, além de tudo), franquia de bagagem dobrada e ainda cheguei em Caiena meio bêbado do planteur que eles servem no grandão da Air France. Além disso o picolé é liberado. Eu acho que esse picolé foi a melhor parte da viagem. Sinceramente foi um dinheiro bem empregado.

Chegando em Caiena, começamos a reparar uma coisa ou duas: O lugar é pequeno. O aeroporto é pequeno, as estradas são pequenas, prédios de vinte andares? Mais fácil uma árvore ser mais alta que a construção mais alta da Guiana Francesa que achar um prédio no padrão das nossas grandes cidades - de fato isso é algo que eu reparei em outros lugares na Europa, nos poucos em que eu estive, prédios enormes, pra eles, são coisas estranhas. E isto se reflete aqui, na Guiana Francesa, tudo tem um ar de simplicidade e tranquilidade que pode incomodar quem vem de uma cidade grande.


Como assim? Veja bem - seguindo a minha aventura francófona, reparei que, além da ausência total de prédios enormes é digna de nota a ausência de transporte público! Não que o mesmo seja inexistente, mas a disponibilidade em comparação mesmo com cidades de segundo porte como, por exemplo, a semi-capital, Niterói, que possui uma malha até bem servida e diversificada de transporte público parece Nova Iorque em comparação a Caiena.


Um senhor choque! Então ou eu iria depender totalmente de um sistema de ônibus que eu não entendia, ou dos outros ou... da bicicleta. Sim, a bicicleta foi, e tem sido a minha melhor amiga. O apego emocional é tamanho que quando o pneu de trás furou, eu chorei. É como se ela tivesse quebrado a patinha. Fui comprar essa bendita, e de acordo com o que o tempo foi passando, percebi uma coisa ou duas. Primeiro - chove! E muito!!! Então, sobre a bicicleta, vale lembrar: compre alguns acessórios, como pára-lamas e também uma capa de chuva. Algumas vezes vai ser super desagradável por causa do calor, mas aí você pega e coloca uma roupinha de reserva na mochila, sai de sandália de borracha e roupa simples, se troca no banheiro do trabalho, e depois, se ainda estiver chovendo, troca de novo. Não parece prático. Mas depois vai ser a coisa mais genial do mundo, você vai ver!


Enfim, protetor solar às toneladas, boné, óculos escuros... o sol aqui queima mesmo! Proteja-se! Principalmente de mal-estar causado pelo excesso de sol e calor. E você vai suar muito também, então preveja tudo isto. Mas outra coisa, enfim, nada é realmente longe, os motoristas são razoavelmente educados se compararmos com os assassinos de "viatura armada" que temos no Brasil, como os que atentavam de segunda a sábado na rua São Lourenço, em Niterói. Mesmo depois da criação da ciclovia.


Em seguida, outra coisa aconteceu. No terceiro dia que eu cheguei, o meu computador pifou. Fui saber o que era, e simplesmente a umidade COMEU a minha placa-mãe. E mais: assistência técnica na Guiana Francesa é raro. Repare que estamos em um território povoado por uns 300 mil seres humanos. Não são 20 milhões de cidade do México, ou 7 milhões de Rio e Região Metropolitana. Então quando você precisa de assistência aqui, o teu pc, tua câmera, seja lá o que for, pega o avião e vai pra Paris. Chique né? Chato! O meu computador foi pro Rio, ficou quatro meses, e só agora está firme e forte. O que fazer? Tenha sempre algo para proteger suas coisas da umidade, guarde em sacos plásticos, ou aquelas bolsinhas próprias para notebook. Assim que desligá-lo, coloque-o logo protegido da umidade, não dê mole. Assim como suas roupas... tudo aqui pega mofo muito rápido, pois o clima é o ideal para a proliferação de bactérias e fungos: muito quente e muito úmido.


Terminando esta parte prática, dicas sobre o interior: legumes na geladeira, sempre! Apodrece tudo bem rápido, meias e pés bem lavados (evite fungos), mosquiteiros e repelentes a vista, não esquecer, estamos na floresta!

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